
Apagar o círio pascal na última celebração do Dia de Pentecostes é, além de um bonito e cativante ritual, um sinal de que ainda que visivelmente não esteja presente na chama acesa na noite da Páscoa, deve permanecer acesa dentro de nós, todos os dias.
É o que nos exortava o cura da Catedral, padre Márcio Felipe, na noite de 23 de maio de 2021, quando, com toda a dignidade cerimonial, apagou o círio num gesto de humildade e respeito.
Nos lembrava da missão que, como cristãos, devemos ter diante de nós todos os dias: avisar a todos que somos amados por Deus, e que Seu Espírito Santo é derramado na Igreja para que ela continue a anunciar que Cristo Ressuscitado nos preparou um lugar no Céu e que, por meio desse Espírito, pode transformar completamente a nossa vida!
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós. Não vos deixarei órfãos. Voltarei a vós.” (João 14, 15-18)
E volta o tempo comum. Como nos fala a Bíblia, na noite da Transfiguração, os discípulos disseram a Jesus que “é bom estarmos aqui”. É bom que a /igreja celebre uma festa que dura cinquenta dias, é bom que tenhamos a lembrança da ressureição de Cristo, de Sua presença entre nós, da Sua ascensão, finalmente, do envio do Espírito Santo em Pentecostes, e das solenidades e tantos consolos que obtemos durante o período pascal.
No entanto, a vida humana não é só festa. É no Tempo Comum, de paramentos verdes, na vida ordinária, no dia-a-dia comum de trabalho e fadiga, que devemos perceber o amor de Cristo. Não que as festas não sejam boas, mas a Igreja sabiamente nos coloca no tempo comum, numa caminhada de passos firmes, sem ilusão. É estar com os olhos nos céus, mas os pés no chão!
O Tempo Comum nos leva a valorizar o tempo que Deus nos concede. Os grandes e os pequenos acontecimentos são percebidos no tempo e, por outro lado, os acontecimentos nos fazem perceber o tempo. O Tempo Comum nos convida a entrar no mistério das grandes pequenas coisas. É fácil deixar-se inebriar pelas grandes festas que costumam deixar uma gota de amargor. Difícil é fazer com que as pequenas coisas e pequenos acontecimentos se tornem eloquentes. O raiar do dia será cada novo dia se vivermos o seu significado, se for um encontro com o sol da vida, Jesus Cristo. O trabalho mais despretensioso e oculto será um evocar a maravilhosa capacidade do homem de dominar a terra, participando do poder criador do próprio Deus.
Ainda temos a Festa da Santíssima Trindade, quando afirmamos ao mundo o maior mistério de nossa fé: a confirmação de que cremos num Deus Uno e Trino. Pai, Filho e Espírito Santo. Amém. Sigamos firmes até o fim do ano litúrgico. Temos uma longa caminhada pela frente!
Robinson Daniel dos Santos